Está na hora de discutir a ‘inteligência das coisas’

As pessoas mal se adaptaram à ideia de ter dispositivos permanentemente conectados à internet – o conceito da internet das coisas, ou simplesmente, IoT – e uma nova expressão começa a ser disseminada pelos especialistas: a “inteligência das coisas”. A diferença entre os dois conceitos é que enquanto a IoT prevê dispositivos conectados à internet o tempo todo, sob a inteligência das coisas os aparelhos não só estão conectados por sensores, mas usam inteligência artificial para automatizar tarefas e melhorar o funcionamento dos próprios equipamentos.

Os carros autônomos são um exemplo da nova tendência, mas antes que eles cumpram a promessa de dispensar o motorista, o que vai consumir anos de aperfeiçoamento, a expectativa é que outros produtos cheguem ao consumidor. É o caso de um forno da Whirlpool que reconhece a comida e define automaticamente a temperatura e o tempo de preparo, e de um chip da Samsung que melhora a qualidade da imagem e do som de qualquer tipo de conteúdo.

“A melhor parte, talvez, é que não temos que usar um termo novo. Ainda podemos falar em IoT”, brincou Steve Koening, vice-presidente de pesquisa da Consumer Technology Association (CTA), organizadora da CES, feira de tecnologia que ocorre nesta semana em Las Vegas (EUA). Maior evento do tipo no mundo, com 4,5 mil expositores e expectativa de receber mais de 175 mil pessoas entre hoje e sexta-feira, a CES terá novidades em mais de 30 segmentos, com destaque para produtos de mobilidade (carros autônomos, voadores, patinetes e outras formas de micromobilidade), saúde digital, robôs para tarefas específicas, TVs com resolução 8K (sucessora do 4K) e, em especial, novos usos para as redes de telefonia móvel 5G. A casa conectada continua na pauta.

Segundo Lesley Rohrbaugh, diretora de pesquisa da CTA, 2020 será um ano de inflexão para o padrão de comunicação 5G, com mais operadoras lançando o serviço e aparelhos chegando ao mercado. Hoje, mais de 50 redes estão em operação no mundo. A expectativa da CTA é que em 2023 a venda de aparelhos habilitados para a tecnologia represente mais de três quartos do mercado americano, o equivalente a 133 milhões de unidades. Será um salto considerável frente aos 20,2 milhões previstos para 2020 (cerca de 12% do mercado total). “É a quinta geração da telefonia móvel, mas é também a primeira geração que será liderada pelo uso por empresas”, disse Koening, a jornalistas, no domingo à noite. Segundo o executivo, existem dois grandes eixos de uso: para serviços em escala, como rastreamento de carga e gerenciamento de frotas: e de missão crítica, como controle de tráfego, manufatura remota e cirurgias a distância, entre outras aplicações.

Em mais de cinco décadas de existência, a CES sempre foi marcada pelo lançamento de um grande produto ou novidade tecnológica – o videocassete em 1970, a TV em alta definição em 1998 e os ultrabooks em 2012. Mais recentemente, porém, essa dinâmica mudou. Com os smartphones dominando o interesse dos consumidores, a movimentação na feira passou a girar em torno da convergência de tecnologias, suas aplicações e os ecossistemas em que os produtos estão inseridos – com destaque para Google, Apple e Amazon.

Devido à mudança, muitos observadores passaram a questionar a relevância do evento. Mas a feira tem conseguido manter o interesse do mercado ao incorporar discussões sobre conteúdo, privacidade e tendências emergentes, como uma nova área dedicada aos esportes eletrônicos. Até a Apple, que participou uma vez da CES, em 1992 e chegou a rivalizar com a exposição ao marcar eventos próprios para a mesma época, tem sido vista em seus corredores. No ano passado, a fabricante do iPhone criou um outdoor gigantesco com uma provocação ao Google e ao Facebook quanto ao riscos à privacidade nessas plataformas: “o que acontece no seu telefone fica no seu telefone”, dizia o texto. Neste ano, uma executiva da Apple participará de um painel para discutir o mesmo assunto.

Fonte: Valor Econômico

07 de dezembro  de 2020