Mão de obra em TI: 69% dos universitários desistem dos cursos

A pesquisa Formação Educacional e Empregabilidade em TIC, elaborada pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), traz dados surpreendentes sobre a evasão dos cursos superiores de tecnologia no país. Segundo o estudo, 69% dos universitários nas áreas de TIC não se formam.

O dado preocupa, já que a expectativa é de que o setor de Software e Serviços dobre em seis anos no Brasil. Com isso, demandará 70 mil novos profissionais por ano até 2024, conforme o levantamento. Hoje, no entanto, são formados apenas 46 mil pessoas com perfil tecnológico anualmente. Sem mudanças, haverá déficit de 260 mil profissionais no período.

Por conta dessa situação, as empresas do setor de tecnologia investem em alternativas à formação superior. Para muitas, ter faculdade não é mais considerado um requisito obrigatório, desde que o profissional demonstre ter competência técnica. Elas também estão investindo em treinamentos próprios, de modo a suprir demandas específicas. São conhecimentos que, às vezes, mesmo quem frequentou um curso superior não possui.

Formações alternativas são um caminho

Investir em cursos de capacitação intensivos e com foco nas tecnologias mais utilizadas atualmente é uma das saídas encontradas pelas empresas. A Codenation, por exemplo, aproxima quem busca uma transição de carreira das empresas que procuram novos talentos. “Quando a Codenation começou suas operações, em 2017, já sabíamos que havia uma diferença entre as demandas do mercado e o que era ensinado pelos métodos tradicionais”, explica Eduardo Varela, CEO da startup. “Mas percebemos que essa distância é maior do que imaginávamos. É fundamental investir na capacitação profissional, para que as pessoas da área de desenvolvimento se mantenham atualizadas e aptas para atuar”.

A vontade de aprender é valorizada pela Cheesecake Labs, empresa de consultoria especializada em desenvolvimento web e mobile. Por acreditar que o conhecimento é cíclico, a empresa mantém o projeto Mão na Massa, em que os Cakers (como são chamados os colaboradores) ensinam programação a jovens de 14 a 20 anos para incentivá-los a se desenvolverem na área.

A falta do ensino formal também não exclui candidatos interessados em trabalhar na empresa, que oferece auxílio-educação entre os benefícios. “Independentemente do modo como os profissionais conquistaram conhecimento, o essencial é que o desejo constante de aperfeiçoamento seja o propulsor para o protagonismo da própria carreira”, diz Caroline Schmitz, diretora de gestão de pessoas da Cheesecake Labs.

Faculdade nem sempre é essencial

Diante do cenário de evasão dos cursos de tecnologia e alta demanda por profissionais, muitas empresas brasileiras estão dispensando a obrigatoriedade do diploma na hora de contratar. A Supero, empresa catarinense de tecnologia, por exemplo, não desclassifica candidatos sem curso superior. “Avaliamos pessoas com perfis arrojados, flexíveis, entusiastas de tecnologia e com mindset ágil. Os profissionais de tecnologia costumam ser autodidatas e é isso que buscamos”, afirma Bárbara Vieira, coordenadora de Desenvolvimento Humano e Organizacional (DHO). “Nosso time é mesclado. Temos bons profissionais que ainda não finalizaram a graduação, assim como temos profissionais com MBA e mestrado. Nosso time é bastante mesclado”. Hoje, dos 137 profissionais da empresa, cerca de 20% não concluíram a graduação. A companhia também acredita que o caminho para a qualificação dos seus profissionais é investir em cursos internos e externos.

No Agendor, plataforma de gestão comercial e CRM (gestão de relacionamento com clientes), ter formação superior também não é um requisito eliminatório. Mais do que a educação formal, a empresa considera importante que as pessoas tenham afinidade com as demandas e responsabilidades de cada cargo. “O critério de avaliação são as experiências e a disposição para aprender”, explica Mariana Ledesma, gerente de Gente e Gestão. Um exemplo é Bruno Azisaka, CTO do Agendor. Autodidata em programação, ele chegou a cursar um ano de Ciências da Computação, mas deixou a faculdade de lado porque sentia que era capaz de aprender o que precisava por conta própria. Entrou na empresa há dois anos e hoje ocupa um dos principais cargos de liderança.

Luiz Alberto Ferla, CEO do DOT digital group, referência em educação corporativa, acredita que o caminho para fidelizar colaboradores é investir em educação informal por meio da tecnologia e criar jornadas personalizadas para que cada funcionário seja protagonista da sua carreira. “O Gartner fez uma pesquisa com profissionais nascidos em meados dos anos 90 e 40% disseram estar arrependidos de ter aceitado o emprego atual. O que eles querem? Oportunidades de desenvolvimento na carreira foi a resposta mais citada como razão para permanecer na empresa”, destaca Ferla. Para o empresário, a experiência do colaborador tem que ser prioridade no desenvolvimento de novas soluções de educação corporativa.

Fonte: InforChannel

27 de setembro de 2019