Ocorrências de Crimes Cibernéticos crescem 110% de 2017 para 2018

Atualmente, o Brasil ocupa o quarto lugar em número de usuários da internet, segundo os dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. No mesmo compasso, crimes cibernéticos crescem proporcionalmente à quantidade dos adeptos virtuais. Mensagens, tentativas de ligação, insistência por atenção, vigília das atividades em redes sociais, calúnia, difamação, injúria, pedofilia, pornografia infantil e divulgação de conteúdo sem autorização são apenas alguns exemplos de crimes virtuais.
Os ilícitos geralmente se referem a condutas que lesionam a esfera íntima e pessoal das vítimas. Desde 2016, o Brasil vive um crescente aumento nos casos de crimes cibernéticos, que vão desde a exposição de fotos privadas sem consentimento da pessoa até o roubo de informações financeiras por hackers.
Diariamente, são registrados pelo menos 366 crimes cibernéticos em todo o País. O levantamento mais recente, feito em 2018 pela associação SaferNet Brasil, em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), contabilizou 133.732 queixas de delitos virtuais, como pornografia infantil, conteúdos de apologia, incitação à violência, crimes contra a vida e violência contra mulheres ou misoginia. Em comparação ao ano anterior, a quantidade de ocorrências deu um salto de quase 110% – em 2017, a associação registrou 63.698 denúncias.
O número de denúncias de crimes na internet relacionados à violência contra a mulher passou de 961, em 2017, para 16.717 em 2018. O dado também faz parte do balanço anual da SaferNet, que atua na defesa dos direitos humanos na rede.
Outra categoria que registrou aumento expressivo no número de denúncias foi xenofobia. Em 2017, crimes nesse sentido foram registrados 1.453 vezes na rede, enquanto, em 2018, foram 9.705. Todas as denúncias foram feitas anonimamente junto à Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, projeto mantido pela SaferNet em parceria com o MPF.
Em números absolutos, a categoria que lidera o ranking dos crimes cibernéticos é pornografia infantil, com mais de 60 mil denúncias. O crescimento foi de quase 80% de 2017 para 2018. Apologia e incitação a crimes contra a vida, racismo, LGBTfobia e neonazismo também compõem a lista.
Um fator que contribui para a ação criminosa é o descuido da população quanto à utilização de ferramentas que protegem os aparelhos celulares de invasões hackers. Apesar de ser impossível estar 100% protegido, o mínimo de precaução pode reduzir as ameaças à privacidade de cada usuário.
De acordo com o Relatório de Crimes Cibernéticos Norton: O impacto humano, que entrevistou cerca de 7 mil pessoas, os crimes cibernéticos se tornaram uma epidemia digital global silenciosa. Ao menos 65% da população adulta mundial já foi uma vítima em potencial. Entre os países com os índices mais altos destacam-se China (83%), Brasil (76%), Índia (76%) e Estados Unidos (73%).
O estudo identificou que vírus de computador e ataques de malware são os meios mais comuns, atingindo cerca de 51% da população. Em seguida, o estudo elencou golpes on-line, ataques de phishing, roubo de perfis de redes sociais, fraudes de cartão de crédito e assédio sexual. Com base no universo que compõe essa pesquisa, 79% dos entrevistados disse não esperar que os criminosos cibernéticos sejam levados à justiça.
Para delegado gaúcho especialista em violações na rede, a prevenção é o melhor caminho

Os crimes cibernéticos, por assim dizer, são atividades ilegais praticadas em ambiente virtual. As ações vão além do roubo de informações financeiras. Utilizando-se de computadores, celulares e internet para atingir os mais variados objetivos, os criminosos podem atuar por meio de uma rede pública, privada ou doméstica. Os crimes em ambiente virtual englobam infrações que podem atingir um único usuário ou vários.

Os principais delitos no campo de internet, segundo o delegado e especialista em crimes cibernéticos Emerson Wendt, acontecem no âmbito da honra, como questões de injúria, calúnia, difamação. “Nesse ambiente (virtual), há muitos crimes nesse sentido de ofensas e discurso de ódio. São atos bastante danosos à honra das vítimas”, disse. Já em relação aos delitos de origem eletrônica, estão no topo da lista o roubo de informações, o estelionato e a subtração de valores. Conforme o delegado, esses são apenas alguns dos enfoques, entre tantos outros praticados na rede mundial de computadores.

Para o delegado, a prevenção, tanto nas redes de computadores quanto nos smartphones, é a melhor alternativa para tentar driblar esses casos. “Costumo dizer que a prevenção, baseada no óbvio, é o melhor caminho. Ou seja, é preciso ter um sistema operacional devidamente atualizado, com antivírus, com senha segura e com o chamado fator de autenticação. Esses são apenas alguns fatores que auxiliam na prevenção de delitos em campo cibernético”, salientou.

Quanto ao campo da investigação policial, Wendt afirmou que esse é um processo mais longo do que o normal, justamente por se tratar de um crime de internet. Entretanto, frisou a importância do registro de ocorrência nesses casos, pois é a partir da denúncia e dos dados disponibilizados pela vítima que a polícia poderá realizar uma apuração inicial com verificações prévias, como de onde pode ter partido o delito, e assim seguir os trâmites legais.

Saiba como prevenir ataques cibernéticos
  • Utilize a autenticação de dois fatores para acrescer uma camada adicional de segurança ao processo de login da conta de aplicativos de conversa, e-mails e redes sociais;
  • Mantenha o antivírus constantemente atualizado;
  • Use senhas diferentes para cada conta ou aplicativo e atualize-as com frequência;
  • Pesquise sobre os aplicativos antes de baixá-los;
  • Desconfie de links e analise se eles são seguros antes de acessá–los;
  • Não abra links suspeitos;
  • Evite expor o local onde você está;
  • Sempre que possível, atualize o sistema operacional e os aplicativos do aparelho;
  • Dê preferência a redes de Wi-Fi conhecidas ou particulares;
  • Não conceda permissões desnecessárias a aplicativos desconhecidos.

Fonte: Jornal do Comércio

15 de outubro de 2019