Saque e Pague vê espaço onde faltam caixas eletrônicos

*Presidente da Saque e Pague, Givanildo Luz

Empresa gaúcha de tecnologia, com unidades em Porto Alegre e Campo Bom, a Saque e Pague aposta na reinvenção dos caixas eletrônicos. O atrativo de seus terminais reside, principalmente, no conceito de reciclagem de cédulas – o dinheiro depositado em uma máquina por um usuário pode ser sacado por outro cliente, em outra operação, sem intervenção humana.

As notas são contadas e separadas pelo próprio equipamento. Criada em 2010 e independente desde 2014, quando foi desmembrada da Getnet, a Saque e Pague possui atualmente 13 instituições financeiras conectadas ao sistema. No Estado, a principal é o Banrisul, interligado aos equipamentos desde 2012.

São 1,1 mil máquinas instaladas em 170 municípios de 18 estados brasileiros, contingente que, até o fim do ano, deve chegar a 1,3 mil. “Conseguimos transformar o dinheiro físico em digital em 40 segundos com nosso produto”, argumenta o diretor-presidente da companhia, Givanildo Luz, sobre o modelo.

Empresas & Negócios – A empresa afirmava dobrar de tamanho todos os anos. Continua assim?

Givanildo Luz – Gostaríamos que continuasse assim, mas chegamos em um ponto em que dobrar de tamanho se torna mais complexo. Tivemos um crescimento relevante em 2017, em torno de 60% sobre 2016. Mas este ano foi mais complexo, em função da economia e da própria política, e devemos crescer entre 30% a 35%. Mas já no próximo ano devemos voltar ao patamar de crescimento de 60%.

Empresas & Negócios – Por que os grandes bancos não aderiram à rede? A Saque e Pague depende disso?

Luz – Comprovamos que a nossa solução era eficaz para o mercado brasileiro. É um modelo que importamos do Japão, fizemos algumas adaptações para funcionar com a moeda brasileira, e conseguimos crescer muito fortemente nos bancos médios. Acreditamos que agora há espaço para dar novos passos nos grandes bancos.

Mas também acreditamos que há um espaço enorme no mercado das fintechs. Há cerca de dois anos, olhávamos com certa desconfiança para as fintechs, porque poderiam ser uma ameaça, mas no fim descobrimos que elas complementam o nosso negócio, e nós, complementamos o delas. Elas têm carência de ponto físico, e nós entregamos isso com preços abaixo do praticado no mercado existente no Brasil.

Banco digital, por exemplo, o conceito é muito bonito, funciona muito bem e deve escalar muito por ter um serviço mais leve e eficiente em determinadas situações, mas ainda precisam fazer essa entrada e saída do físico. Acreditamos muito que temos espaço para crescer nos grandes bancos, conversamos com muitos deles, mas, principalmente, nas fintechs.

Empresas & Negócios – Apenas bancos digitais ou outras fintechs podem ser parceiras?

Luz – Transformamos aquilo que até pouco tempo se chamava de ATM (sigla em inglês para caixa eletrônico) em um ponto de venda. Podemos vender as transações tradicionais, como retirada de dinheiro, pagamento de contas, depósito de cheques, mas também vender seguros, temos casos de venda de recarga de cartão de transporte público, vendemos câmbio, podemos vender crédito.

Abstraímos a questão do autoatendimento tradicional e abrimos para outras operações. É aí que as fintechs se enquadram, seja no crédito, na moeda estrangeira, até mesmo em criptomoedas, que é algo que começamos a estudar há um tempo a viabilidade.

Empresas & Negócios – Há uma notória diminuição de caixas eletrônicos no País.

Luz – É uma grande oportunidade. Primeiro, porque vendemos serviços diferenciados. Segundo, porque o Brasil é um país com dimensões continentais e, hoje, está muito desassistido, principalmente nos interiores, nas cidades mais remotas, que é exatamente onde há a maior desbancarização.

Nós temos uma estratégia de começar a olhar para essa inclusão financeira, interiorizando a nossa estratégia de crescimento, de estar onde ninguém está. Nós acreditamos muito no conceito de compartilhamento, de tornar o sistema mais barato, e crescemos onde os bancos não estão e precisam de presença para atender os seus clientes ou capturar novos clientes. Há muito espaço no Brasil para continuarmos esse crescimento.

Empresas & Negócios – E quais as vantagens para o lojista colocar a máquina em seu negócio?

Luz – Nós resolvemos algumas dores do sistema financeiro brasileiro. A primeira delas é a do varejista, que foi fundamental para termos esse crescimento ao longo dos anos. Hoje, quando o lojista vende com dinheiro, ele tem risco em manter esse dinheiro na loja, tem um custo alto para colocar no banco, não tem gestão, pode sofrer fraude, roubo. Eliminamos esses riscos.

Existe um apelo muito forte entre os varejistas para ter nossos equipamentos. No modelo tradicional, ou paga uma transportadora para buscar todos os dias com pessoas armadas e levar para o banco, que custa caro, ou vai ele próprio levar para uma agência bancária, e aí o risco é todo dele. Ou, então, a Saque e Pague, que leva um pedaço do banco para dentro do varejo dele.

Outra dor que resolvemos no mercado é que os bancos médios têm necessidade de inovação, de melhores preços e de levar comodidade aos clientes, e nós atendemos aos três pontos. O banco só entrega o leque de transações que precisa e nós fazemos o resto, em geral com tarifas de 20% a 30% abaixo do mercado.

Empresas & Negócios – Em que varejos vocês atuam?

Luz – Hoje estamos presentes em postos, supermercados, farmácias e centros comerciais. Geralmente, os varejistas que usam, tem mais fluxo e maior volume de dinheiro circulando. Mas o modelo se enquadra a qualquer varejista que tenha necessidade de resolver a problemática do dinheiro no ponto de venda.

Empresas & Negócios – Como tem sido a expansão internacional?

Luz – Somos uma startup ainda, criamos nossa plataforma escalável. Guardados os idiomas e as regulamentações, pode ser escalada para qualquer mercado. Há dois anos, mesmo crescendo no Brasil, nossos acionistas nos instigaram a dar um passo além, testar o modelo em algum país da América Latina.

Estudamos Argentina, Chile, Colômbia, Peru e México, e optamos por fazer nossa primeira incursão no México, que já começou há um ano. O Brasil, com 200 milhões de habitantes, tem 160 mil caixas instalados. Já o México tem 120 milhões de habitantes, com 40 mil caixas. Existe uma lacuna importante para ser preenchida. Além disso, é um país mais aberto para o modelo, embora as barreiras culturais e de idioma, pois há duas instituições financeiras no México que interconectam todo o sistema

. Uma vez conectado a uma delas, tenho transações de todos os bancos disponíveis. No Brasil é diferente, temos que fazer acordo bilateral com cada banco. Isso nos fez gostar muito do desafio. Investimos bastante, cerca de US$ 4 milhões para o primeiro passo, que é montar todo o setup da infraestrutura, toda a adaptação para a regulamentação e colocar 100 pontos lá.

Estamos muito próximos disso, já aprovamos tudo que precisava aprovar, agora em fase de traçar projeto de expansão. Há meio ano, instigados pelos clientes, fomos para a Colômbia. Grandes bancos nos conheceram e chamaram para conversar. O potencial existe. Nosso foco é consolidar as operações no México, entrar e consolidar na Colômbia e aí, uma vez feito isso, com os três modelos distintos, podemos ir para qualquer país.

Fonte: Jornal do Comércio 

12 de novembro de 2018