Uso de dados expõe ao risco da manipulação

Zorzo diz que escândalo força usuários a reconhecerem as ameaças

Ainda tem muita água para rolar no escândalo envolvendo a consultoria política Cambridge Analytica, que teve acesso a informações pessoais de usuários do Facebook para manipular a eleição presidencial norte-americana de 2016 a favor de Donald Trump.

Ontem, a FTC (Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos, na sigla em inglês) reconheceu que está investigando as práticas de privacidade do Facebook. Parlamentares dos EUA já solicitaram oficialmente que Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, explique, em uma audiência do Congresso do país, como os dados dos usuários foram liberados para a consultoria. Uma comissão parlamentar britânica também convocou Zuckerberg para falar sobre o suposto uso ilegal de informações pessoais.

O executivo disse que está disposto a depor no Congresso norte-americano e lamentou o ocorrido. “Em retrospecto, foi um erro acreditar na Cambridge Analytica. E precisamos garantir que nunca mais cometamos o erro”, disse.

Que as empresas coletam diariamente dados dos usuários enquanto eles navegam na internet não é novidade. Na verdade, muitas extrapolam na ânsia de angariar informações que possam, futuramente, se reverter em negócios. E não é só o Facebook. Isso acontece com aplicativos, que pedem informações além das necessárias sempre que as pessoas fazem algum download, sites e provedores de e-mail.

O Gmail, por exemplo, consegue descobrir quando eles viajam, passando, assim, a mostrar anúncios de aluguel de carros ou hotéis na cidade em que estão. Para o pós-doutor na área de segurança no Cybercrime and Computer Security Centre da Newcastle University e membro da Comissão Especial em Segurança da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), Avelino Zorzo, escândalos como o do Facebook são importantes para as pessoas se darem conta das ameaças que estão correndo.

Para ele, o principal risco é o da manipulação, o que ganha ainda mais importância se pensarmos que teremos eleições neste ano no Brasil. “O mais perigoso é que as nossas informações podem ser usadas para nos influenciar sem que a gente perceba, alerta.

Isso acontece, por exemplo, quando uma empresa capta os dados mencionados pelas pessoas nas redes sociais para traçar um perfil comportamento e, a partir disso, passa a mostrar nos feeds de notícias apenas conteúdos e produtos alinhados com essa visão.

“Se tivermos contato apenas com textos que fortalecem o nosso ponto de vista, vamos acabar perdendo a nossa capacidade de aprender com o que é contraditório”, comenta, destacando que é fundamental que os indivíduos tenham discernimento ao usar as novas tecnologias.

Fonte: Jornal do Comércio

26 de março de 2018