Vazamento de dados em site adulto atinge seis mil pessoas, incluindo brasileiros

Brasileiros estão entre as mais de seis mil pessoas atingidas pelo vazamento de um banco de dados que pertenceria a diferentes sites adultos da rede PussyCash. Isso inclui direito a marcas próprias e programas de afiliação voltados para essa indústria, envolvendo ainda parcerias com sites como ImLive, Xtube e Pornhub, entre dezenas de outros. As informações sensíveis foram encontradas pela vpnMentor, empresa especializada em segurança da informação, em um volume que continha mais de 875 mil registros e 19,9 GB de informação.

A descoberta foi feita pelos pesquisadores Noam Rotem e Ran Locar, que pintam um panorama perigoso. O volume, que estava disponível de maneira desprotegida na nuvem da Amazon, é extremamente sensível e incluem documentos de identificação, certidões de nascimento, passaporte, e-mails, números de celular, fotos, dados biométricos e até contatos de familiares e informações de imigração ou cidadania para modelos que residem em países estrangeiros.

O caso apenas se torna pior quando levamos em conta se tratar da indústria de entretenimento adulto, cujos profissionais, normalmente, prezam pelo sigilo de suas identidades. O vazamento contém, por exemplo, cópias de contratos assinados entre modelos e serviços de streaming ou compartilhamento de conteúdo, bem como fotos de comprovação delas segurando passaportes ou documentos de identidade. Endereços completos, profissões, dados de familiares, informações bancárias e dados de cartões de crédito também foram encontrados no volume vazado.

Entre as cópias de documentos estão RGs e passaportes nacionais, mas o número de brasileiros atingidos pelo vazamento não foi informado pela vpnMentor. De acordo com os especialistas, o banco de dados não foi investigado a fundo, nem suas informações foram copiadas, como forma de preservar o sigilo dos afetados. No total, cidadãos de 27 países foram comprometidos pela brecha, em uma lista que inclui China, Grã Bretanha, Estados Unidos, Rússia, Austrália, Argentina, Peru e Canadá, entre outros.

De acordo com os achados da vpnMentor, que foram compartilhados com o Canaltech antes da publicação do relatório sobre o vazamento, o banco de dados aparecia organizado em pastas compactadas, sendo uma por modelo, aparentemente. No interior de cada uma delas estão não apenas os contratos, documentos e informações sensíveis, como também amostras do conteúdo produzido pelas vítimas da brecha, com fotos e vídeos íntimos, bem como cópias de chats de texto e capturas de tela.

Outras informações pessoais também revelam os bastidores do funcionamento dos sites e redes de afiliados da PussyCash. Os documentos incluem, por exemplo, autorizações para uso de imagem e diagramas que indicam o posicionamento e o caráter de tatuagens e piercings, bem como detalhes pessoais preenchidos a mão, com direito a preferências sexuais, fantasias, hobbies e passatempos preferidos, informações supostamente usadas no preenchimento de perfis nos sites de venda de conteúdo.

O banco de dados foi localizado em 3 de janeiro, com a PussyCash e o ImLive, um dos principais sites mencionados no documento, sendo avisados no dia seguinte. A Amazon também foi notificada, na última terça-feira (07), com a brecha sendo solucionada na quinta (09).

Em comunicado enviado ao Canaltech, a PussyCash afirmou ter tomado medidas rápidas para remover o acesso público ao banco de dados assim que foi informada pela vpnMentor sobre a brecha de segurança. A empresa afirma que os pesquisadores responsáveis pelo relatório foram os únicos a acessarem as informações e que não houve vazamento de informações nem utilização delas por indivíduos maliciosos.

De acordo com a empresa, ainda, o conteúdo disponível no volume desprotegido datava de 2013 e consistia apenas de imagens e vídeos produzidos por profissionais, adquiridos pela PussyCash para utilização em campanhas de marketing e divulgação de seus serviços, sites e programas de afiliação. A empresa nega que dados pessoais e informações privadas dos modelos ou usuários da plataforma estavam presentes no vazamento.

A PussyCash afirma ainda que a privacidade de seus usuários é uma das principais prioridades e que os departamentos técnicos foram informados sobre o problema e os protocolos de proteção de dados e controle de acesso. A companhia informa, ainda, que todos os profissionais cujos conteúdos foram expostos têm mais de 18 anos de idade.

Consequências reais

O vazamento foi considerado pela vpnMentor como extremamente grave, por não apenas tornar os atingidos suscetíveis a fraudes, mas também por expor diretamente cada um deles, de forma pessoal. Um dos principais perigos é o vazamento de imagens íntimas, bem como tentativas de chantagem e extorsão, com cibercriminosos ameaçando entregar as informações sobre os trabalhos das vítimas na indústria adulta a cônjuges, familiares e empregadores.

Como muitos dos registros têm mais de uma década de existência, eles podem pertencer a ex-profissionais da indústria adulta, que podem não desejar a exposição de conteúdos antigos. O mesmo, claro, também vale para aqueles que estão na ativa e prezam pelo anonimato, com o vazamento dos dados colocando a perder, inclusive, contratos que levavam isso em consideração.

Os especialistas apontam ainda para a presença de indivíduos da comunidade LGBTQ no volume vazado, incluindo pessoas que residem em países nos quais a homossexualidade é criminalizada. Novamente, as consequências para tais vítimas podem ser reais e violentas, indo além dos problemas usuais de uma brecha dessa categoria.

No campo virtual, usando as informações vazadas, criminosos poderiam facilmente assumir a identidade das vítimas para realizar fraudes e golpes. Ataques direcionados e tentativas de phishing podem acontecer por e-mail, celular e outros meios, enquanto todo o volume pode aparecer à venda na dark web, já que constitui uma mina de ouro para os adeptos desse tipo de prática.

A recomendação dos especialistas é que os membros das redes e sites que pertencem à PussyCash procurem a empresa em busca de mais informações sobre o vazamento, além de garantir a proteção individual contra ataques ou possíveis exposições. Ainda, valem as recomendações de sempre quanto aos crimes virtuais, como prestar atenção em transações suspeitas nos cartões de crédito e e-mails fraudulentos, enviados por indivíduos maliciosos que tentam se passar por empresas ou serviços.

Fonte: CanalTech

15 de janeiro de 2020