Investimentos em startups no Brasil caem 86% no primeiro trimestre

Apesar do cenário de crise acentuada, levantamento indica que o mercado tem buscado novos meios de captação

Nos três primeiros meses de 2023 foram realizadas 91 rodadas de investimentos em startups no Brasil, uma injeção de US$ 247,02 milhões, de acordo com o Inside Venture Capital Report, documento do Distrito. No mesmo trimestre do ano passado, o setor contabilizou 306 rodadas e US$ 1,7 bilhão em investimentos.

Assim o trimestre chegou ao fim com queda de 86% em aportes em companhias brasileiras na comparação com o mesmo período de 2022. Segundo o Distrito, isso se deve a um movimento já prolongado de consolidação do mercado, com março sendo um mês marcado pela falência do Silicon Valley Bank.

Na comparação setorial, destacam-se mais uma vez as FinTechs, que receberam o maior volume de recursos (US$ 112 milhões) e o maior número de rodadas (28); seguido pelo setor de Supply Chain, impulsionado pela rodada de investimento na Daki, que anunciou um cheque de US$ 50 milhões em fevereiro; e EnergyTech, cada segmento levantando US$ 51,1 milhões e US$ 48,6 milhões em montante de capital, respectivamente.

Para Gustavo Gierun, CEO do Distrito, apesar do cenário de crise acentuada, o levantamento indica que o mercado tem buscado novos meios de captação. “Os dados agora mostram mais founders incrementando seus caixas com operações de dívida e com estruturação de M&A. Essa tendência já aparecia no fim de 2022 e continuou em expansão neste trimestre. São números que acabam mostrando a resiliência das startups em um momento de instabilidade de mercado que muitas delas não haviam vivenciado”, diz.

De acordo com o executivo, esse movimento tem pontos positivos e negativos para o mercado. Entre os benefícios para quem busca financiamento via dívida estão a ampliação dos fluxos de caixa sem diluição, manutenção do controle da companhia, além de evitar um possível down-round (quando as empresas levantam dinheiro com uma avaliação mais baixa do que as rodadas anteriores).

Por outro lado, levantar capital por este meio também exige dos founders uma maior diligência financeira, fora as obrigações de pagar o montante principal do empréstimo em um período específico.

De acordo com o levantamento, nos três primeiros meses de 2023 as transações de dívida já tinham registrado uma alta de 14% a mais em número de transações na comparação com o período equivalente de 2022 (8 no 1T23 vs 7 no 1T22). Em relação ao último trimestre de 2022, o percentual também cresceu: foram 8 no 1T23 vs 5 no 4T22, uma alta de 60%. Agora, entre janeiro e março deste ano, o levantamento mostra que este mesmo número cresceu 23% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, com deals que somam US$ 317 milhões.

“Além disso, os números deste trimestre foram afetados tanto pelo contexto macroeconômico global, quanto por episódios como a falência do Silicon Valley Bank e o medo de uma crise bancária em uma grandeza semelhante ao que vivemos em 2008. Tudo isso fez com o que os investidores segurassem ainda mais os seus caixas, principalmente no mês de março. De toda forma, vale ressaltar que os números volumosos que vimos em 2020 e em 2021 não devem reaparecer no horizonte, mas é importante destacar que não devemos seguir com um cenário de escassez de capital por muito tempo”, explica Gierun.

Estágios de investimento

Já na variação entre os estágios de investimentos, o seed-stage registrou queda de 74,2% no contraste com 2022 e baixa de 19,91% em relação ao mesmo período de 2021. No early-stage, o volume de capital investido em startups apresentou variação negativa de 92,6% em relação ao ano passado e redução de 84,16% no confronto com os números de aportes do primeiro trimestre de 2021.

As rodadas voltadas para empresas mais maduras tiveram uma redução expressiva no primeiro trimestre de 2023. De acordo com os dados divulgados, o late-stage captou 99,8% a menos que no mesmo período de 2022 e 99,54% a menos que em 2021.

Enquanto isso, o ticket médio em investimentos de capital semente apresentou estabilidade na comparação ao primeiro trimestre de 2022. Já nas rodadas de investimento na série A, o ticket médio teve uma queda substancial de cerca de 61,93%, enquanto na série B a queda foi de 51,37%.

Fusões e aquisições

O levantamento apontou que os três primeiros meses de 2023 registraram, ao todo, 32 operações de M&A. O dado indica que entre o primeiro trimestre de 2022 e o mesmo período de 2023 houve uma diminuição de 55% no volume de fusões e aquisições, mas o histórico da pesquisa destaca que o 1T2022 registrou o maior número de operações de M&A, 72 ao todo, desde que o levantamento começou a ser feito – um número bem acima da média dos outros trimestres.

Neste trimestre, as startups tiveram maior representatividade no número de aquisições feitas, com 17 transações, o que compreende 53,1% do total de M&As. Os M&A’s de empresas tradicionais e de corporações contabilizaram 34,4% e os investidores institucionais completaram o perfil de compradores com 12,5%. Já na avaliação setorial, as martechs representam o setor de startups que mais foi adquirido, com 4 M&As, seguido por HealthTech, com 5.

 

  • Fonte: ITForum.com.br
  • Imagem: Freepik
  • 04 de abril de 2023