South Summit Brasil: o mundo das startups chega em Porto Alegre

O leitor deve ficar atento nos próximos dias. Nesta quarta-feira, dia 4, começa no Cais Mauá, em Porto Alegre, uma inusitada temporada de caça internacional. A capital dos gaúchos será, durante três dias, o centro das atenções do Brasil e da América Latina para quem procura por unicórnios, as empresas que começam como startups e atingem a valorização de pelo menos US$ 1 bilhão sem estarem presentes na bolsa de valores.

É que, pela primeira vez dez anos depois da sua criação em Madri, o South Summit, uma das principais plataformas mundiais de descoberta e promoção de inovação – com uma competição mundial de startups – acontecerá fora da Europa e irá reinserir Porto Alegre no roteiro dos grandes eventos de escala global. Mas, como define o secretário estadual do Planejamento, Claudio Gastal, é bem mais do que isso.

“Colocará a cidade definitivamente na rota da inovação global e no mapa dos grandes players mundiais do setor tecnológico. Nunca tratamos como um evento internacional que traríamos para cá, mas uma plataforma que, pretendemos, seja permanente, porque chega a Porto Alegre no momento adequado e trazendo o que os nosso empreendedores de novas ideias mais precisam”, avalia.

O secretário lista: “temos academia forte, espírito empreendedor e setores pujantes com alta demanda tecnológica, e aí entra o South Summit, para trazer por esta janela as conexões estratégicas e os recursos que dificilmente teríamos aqui, mas, a partir desta edição, podem ter em Porto Alegre um novo destino”. Serão três dias de evento, com 450 palestrantes, sendo 50 internacionais. No total, são esperadas 15 mil pessoas em Porto Alegre.

Entre as atrações estarão 14 unicórnios que, certamente, servirão de inspiração para o eixo central do South Summit, e o motivo principal da existência da plataforma: a competição de startups. Depois de quase 1 mil inscritas na fase inicial da competição, 50 selecionadas farão parte desta finalíssima em Porto Alegre. E aí é possível perceber como os gaúchos aproveitaram a oportunidade para serem protagonistas nesta estreia do South Summit em solo brasileiro.

Das finalistas, 17 são gaúchas. O Rio Grande do Sul tem histórico no Brasil quando o assunto é descoberta de unicórnios entre projetos de startups. Surgiu aqui a Getnet, empresa de pagamentos, com as chamadas maquininhas, primeira experiência de unicórnio brasileira e gaúcha, vendida por US$ 1,1 bilhão ao Santander. José Renato Hopf, fundador da Getnet, em 2010, é hoje quem comanda hoje o 4All, um hub de negócios de inovação em Porto Alegre, e também preside o South Summit na Capital. A perspectiva, segundo Hopf, é de que este seja o maior evento de inovação internacional já visto na América Latina.

“Foram inscritas startups de 76 países entre os mais diversos setores. O que queríamos era criar aqui o ambiente que me encantou em Madri. É um evento que tem uma obsessão por conduzir negociações. Então, os grandes fundos internacionais virão para cá de olho nos nossos negócios, mas tenho certeza que nós vamos ter mais ganhos do que eles”, avalia o diretor-geral do evento, Thiago Ribeiro.

Evento de tecnologia aproxima empreendedores, governo e capital

Desde o começo do South Summit, em 2012, 25 mil startups participaram das disputas e, entre os finalistas, seis tornaram-se unicórnios – entre elas, por exemplo, está a Cabify, case de sucesso na área de transporte, e outras 46 foram vendidas. Foram US$ 8,8 bilhões investidos historicamente na economia mundial pelos finalistas das edições anteriores. A estimativa dos organizadores agora é de que uma carteira que aportará no Brasil será de até US$ 65 bilhões entre 89 fundos de investimento – 18 deles internacionais – dispostos a aplicar no impulsionamento de negócios que podem se tornar os novos unicórnios resultantes desta caçada por inovação.

O South Summit criará a oportunidade, como explica Thiago Ribeiro, para que as três pontas deste sistema se conectem. Estarão entre os armazéns 4, 5 e 6 do cais aqueles que querem investir (fundos), aqueles que buscam uma oportunidade para se desenvolverem (startups) e aqueles que precisam das novas ideias para inovarem seus modelos produtivos (empresas, governos e organizações).

“Vivemos um momento especial em Porto Alegre. Em mais de 20 anos atuando na área da inovação, não lembro de uma interação tão sinérgica entre todos os setores para que novas ideias prosperem. O South Summit vai reforçar esse espírito de comunidade, de troca e negociação tão necessário neste meio. Queremos ser uma referência em Porto Alegre, mas ainda temos fragilidade em acesso a recursos e conexão global, e isso será acrescentado com o South Summit. A partir do momento em que o evento iniciar, já estaremos no mapa mundial da inovação, aí será o momento de trabalharmos para nos consolidarmos”, explica o diretor-geral, Thiago Ribeiro.

Um roteiro para aproveitar o encontro tecnológico

Para aproveitar o South Summit, é possível adquirir o ingresso, que é válido pelos três dias de evento, por valores de R$ 100 a R$ 5 mil, garantindo o espaço desde o visitante novato neste mundo da inovação até os executivos interessados em fechar grandes negócios no Cais Mauá. Para aqueles que não estiverem diretamente envolvidos na “caçada” de startups, há um passo a passo a seguir, e algumas dicas.

A primeira parada precisa ser virtual. Um acesso ao site do evento (https://www.southsummitbrasil.com/) é recomendável para ficar por dentro de quem estará lá e como funciona o South Summit.

“Todas as vertentes do mercado tech estarão aqui, então, é sempre bom consultar aqueles temas que mais interessam e baixar o app do evento para garantir a sua programação no dia”, comenta Thiago Ribeiro.

Depois, uma visita ao marketplace (feira) é interessante para conhecer projetos e observar o que está acontecendo no mundo da inovação, além de acompanhar algumas das apresentações dos palestrantes.

E claro, o ponto alto do South Summit que, na verdade, será bem distribuído ao longo dos espaços do evento: os pitches (apresentações) das startups aos jurados. “É a competição propriamente dita, aquele momento em que as startups terão a oportunidade de mostrar seus potenciais para os grandes investidores mundiais. No caso de Porto Alegre, para muitos será a primeira vez que acontece uma chance deste tamanho. Será também um aprendizado”, valoriza o diretor.

Este será o primeiro de três anos já garantidos do South Summit em Porto Alegre. Para esta ocasião, os três armazéns escolhidos do Cais Mauá receberam R$ 1,5 milhão de investimentos de 25 empresas privadas para serem adaptados às exigências do evento. Foram trocadas 70% das telhas, recuperado todo o madeirame, a recuperação dos portões de ferro e a pintura de todo o espaço. Ao todo, o evento ocupará em torno de 5 mil m².

Mas, diante do Guaíba, em um dos espaços mais belos da Capital, é claro que o South Summit não se limitará às paredes dos armazéns. Haverá também espaços de interação entre o rio e os armazéns e entre o Muro da Mauá e os armazéns. E até mesmo o barco cisne branco será palco para possíveis negócios.

“Ainda estamos avaliando o que destes dias rebaterá de maneira mais ampla em termos de investimentos na economia do Rio Grande do Sul, mas não tenho dúvida de que o maior legado será a coesão. Nosso desafio será manter essa ‘chapa quente’ para que o processo desenvolvido desde o momento em que tivemos a confirmação do South Summit em Porto Alegre não se perca”, explica o secretário Gastal.

Atualmente o destino do Cais passa, por exemplo, por consulta pública, mas para além da caçada de unicórnios do South Summit, o plano do governo estadual é ter nestes três armazéns um espaço contínuo para eventos.

 
 
Fonte: Jornal do Comércio 
Imagem: Alex Rocha – PMPA
02 de maio de 2022